Ben Mezrich, o autor do livro “Bilionários por acaso — A criação do Facebook”, que deu origem ao filme "Social Network" no qual relata os passos dados pelo americano Mark Zuckerberg e pelo brasileiro Eduardo Saverin para desenvolver um dos sites de relacionamento mais populares da atualidade, conta detalhes dos bastidores dessa trama polêmica da vida real que envolve fama, dinheiro e traição.
P: “Bilionários por acaso” parte da criação do Facebook para construir um perfil da geração que cresceu conectada na web. Que cara essa geração tem?

R: Quando cursei a universidade, se um garoto quisesse sair com uma menina ele precisava engolir sua timidez e mandar uma cantada esperta. Agora, ficou mais fácil. Você abre uma conta no Facebook e estabelece uma relação, que pode até se limitar ao plano virtual. Na minha juventude, a geografia era física. Falávamos de casas, de quintais. Hoje, as pessoas moram no Google. A geração de hoje é menos solitária quando está no computador, tuitando, mas isolada quando fica fora dele.



P: Você defende a tese de que o Facebook vai superar o Google e demais sites...

R: O Facebook propiciou uma integração generalizada, como nenhum outro site conseguiu. Ele tem uma agilidade e uma funcionalidade com índices de resultado superiores aos demais. A eficiência pesou na adesão. E a maneira como essa adesão pode interferir no curso da História é o que me interessou na feitura do livro, para além das frustrações de seus criadores. Percebi que o Facebook poderia gerar um comportamento similar ao que a televisão gerou no passado: unindo todo mundo em torno da mesma mídia ao mesmo tempo.



P: Mas para entender esse ensaio de mudança histórica a rixa entre Mark Zuckerberg, que criou o Facebook, e o brasileiro Eduardo Saverin, que financiou, parece essencial. De que modo essa rixa retrata a instabilidade das relações dessa geração?

R: Comecei a escrever o livro ao receber um e-mail de um sujeito de Harvard que dizia: “Sou o melhor amigo do cara que criou o Facebook.” Ali, notei que havia uma nova aristocracia, formada por jovens brilhantes, mas capazes de se esfaquear para alcançar uma afirmação individual. Quando pesquisei os processos, percebi a ironia que era construir um império bilionário às custas de uma amizade.



P: Como a quebra da amizade entre Zuckerberg e Saverin foi transposta para as telas?

R: A principal diferença entre o filme e o livro está na pesquisa que o diretor fez do processo contra Zuckerberg. Ele se ateve mais a documentos do que eu. Mas, de modo geral, há uma fidelidade surpreendente para um cineasta tão autoral como Fincher, o que mostra seu respeito ao livro e à história do Facebook. E ele passa por um aspecto com o qual concordo: Zuckerberg e Saverin não devem voltar às pazes, pois Eduardo se sentiu traído por não receber o crédito.



P: O filme vem sendo associado ao Oscar, em especial pela atuação de Jesse Eisenberg como Zuckerberg. A escalação dele te agradou?


R: Muito. Toda a escalação, aliás.



P: O sucesso do livro se deu enquanto teóricos de Comunicação investigavam a simbologia política que o Facebook carrega. O que há de político num site que conecta bilhões?

R: O Facebook oferece a milhões de pessoas a possibilidade de se expressar de modo democrático, sem censura. Mas ele já começa a criar uma forma de exclusão em relação a quem que não é usuário. Se é libertador como veículo de expressão, é um meio de extremo isolamento.



P: Você preferiu dar esta entrevista por telefone a recorrer a e-mail ou Twitter...

R: Fico muito on-line, mas não como os jovens que cresceram tendo o computador como o principal veio de comunicação. (Agência O Globo)